quarta-feira, 30 de abril de 2014

Sim, nós temos banana. Mas não somos todos iguais *


     O ato racista sofrido pelo jogador Daniel Alves onde o mesmo resolveu (de uma maneira bem baiana que ele é) comê-la como demonstração de repúdio ao ataque racista, não significa de maneira e sob hipótese alguma que a campanha “Somos todos macacos” seja positiva. Não é.

     Tirar foto com banana na mão é o ato mais irracional que se pode fazer. Achar que somos todos macacos e, portanto todos iguais, é voltar a acreditar no mito da democracia racial estabelecido por Gilberto Freyre em sua “Casa Grande e Senzala”.

     Somos todos iguais (e macacos, portanto) quando vamos em busca de um emprego? Não! Somos todos macacos quando somos abordados pela Polícia em suas revistas preventivas (???) ? É lógico que não!  Achar que Angélica, Luciano Hulck, Xuxa, Cláudia Leite e Neymar (esse que disse que nunca sofreu racismo porque não é negro) são iguais a mim é subestimar e por demais minha inteligência.

     Não somos iguais. Somos diferentes. Não somos macacos. Somos negros e seres humanos. Somos gente. Macaco é um antigo termo pejorativo ao qual sempre os racistas usaram para tentar humilhar o negro e estereotipá-lo. Jogaram a banana (não foi a primeira vez) no jogador Daniel Alves justamente para insultá-lo. Ele comeu a fim de manifestar sua indignação não para aceitar a condição de macaco.

     Não seja tolo. Não tire foto com banana na mão. Racismo não se combate com banana na mão. Se combate com luta cotidiana. Com força, fibra e garra características de quem é negro, consciente e sabe do seu lugar e que não deve sob hipótese alguma se deixar levar na onda do momento ou contribuir com a conta bancária do apresentador global Luciano Hulck que aproveita a macaquice de muitos para vender suas camisas a um preço de R$ 69,90.

     Desculpe Luciano Hulck, não quero sua camisa. Desculpe Cláudia Leitte, Angélica, Xuxa, Neymar e demais, eu não sou macaco. Quer fingir que é, finja. Faça sua macacada sozinhos. Como diria Cazuza “Não me convidaram para essa festa pobre que os homens armaram pra me convencer. Apagar sem ver toda essa droga, que já vem malhada antes de eu nascer”. E como não fui eleito chefe de nada não é do reino macaco que serei chefe. Abaixo a macacada. Eu sou Negro. 

     Eu sou Consciente. Eu sei minhas armas e não é uma banana. Eu não sou igual. A luta antirracista é justamente feita com a ideia de oferecer oportunidades diferentes a quem sempre foi tratado diferente. Nunca esse país tratou o negro igual. Não é uma foto com banana na mão que irá reparar mais de 300 anos de escravidão e 500 anos de desigualdades sofridas por indígenas e negros em nosso país.

*Law Araújo é professor licenciado em Letras Vernáculas pela Universidade Católica do Salvador, graduando em História pela mesma Universidade. Coordenador Geral do Coletivo Pensar Negro entidade filiada à Coordenação Nacional de Entidades Negras – CONEN e secretário da executiva nacional do PRB Igualdade Racial.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário